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Especial: Câmpus Pelotas, 73 anos - Parte 2

A série de reportagens especiais elaborada pela equipe da Comunicação Social para celebrar o aniversário de 73 anos do câmpus Pelotas continua. O especial consiste em quatro matérias publicadas entre os dias 10 e 14 de outubro. Os textos e fotos resgatam momentos relevantes da trajetória da escola e episódios contados por pessoas que ajudam ou ajudaram a construir essa história de sucesso que já dura mais de sete décadas.
publicado: 11/10/2016 00h00, última modificação: 14/02/2017 17h22

A série de reportagens especiais elaborada pela equipe da Comunicação Social para celebrar o aniversário de 73 anos do câmpus Pelotas continua. O especial consiste em quatro matérias publicadas entre os dias 10 e 14 de outubro. Os textos e fotos resgatam momentos relevantes da trajetória da escola e episódios contados por pessoas que ajudam ou ajudaram a construir essa história de sucesso que já dura mais de sete décadas.

Através deste projeto, a expectativa é que os leitores possam conhecer um pouco mais sobre a atuação do câmpus Pelotas como instituição de ensino pública e gratuita, seja na área do ensino, da pesquisa ou extensão, e as perspectivas futuras para esta que é a maior unidade do IFSul.

A primeira matéria especial da série, publicada nesta segunda-feira, o leitor pôde descobrir um pouco mais sobre como tudo começou e algumas histórias sob a ótica de um servidor mais antigo do câmpus em atividade, de um professor aposentado e de um ex-aluno, hoje delegado da Polícia Federal. A primeira parte deste especial pode ser conferida aqui.

Hoje, no segundo dia da série, falaremos sobre os números da instituição, que nos dão uma ideia do tamanho do câmpus Pelotas, além de trazer alguns detalhes sobre o que o instituto tem a oferecer aos seus alunos. Abordamos, também, a importância da assistência dada pelo câmpus aos seus estudantes. Para isso, trazemos a história de um jovem que saiu de Brasília para estudar no IFSul.

Matéria 2 (11.10.2016)

Mais do que números: quem faz o câmpus Pelotas funcionar

Quem anda pelos corredores do instituto todos os dias sabe que o prédio tem dimensões consideráveis. Dividido em vários blocos e espaços destinados aos mais diversos fins, o câmpus possui 14 cursos do ensino técnico (integrado, concomitante e subsequente), 7 cursos superiores e 7 pós-graduações. Juntos, os alunos matriculados atualmente no câmpus totalizam 4957. Para se ter uma ideia, 982 novos estudantes ingressaram no último processo seletivo.

Mas não é só de alunos que se faz o câmpus Pelotas. São 218 técnicos administrativos trabalhando nas mais diferentes áreas para garantir que a máquina não pare. Dentre os professores, são 358 efetivos e 59 substitutos. Não podemos esquecer, também, dos funcionários terceirizados que somam, hoje, 136 pessoas. Outro grupo que merece reconhecimento nos bastidores da escola são os estagiários: são 66 estudantes remunerados no nível médio, 81 do ensino superior e 28 não remunerados entre médio e superior.

Outros dados importantes são os de monitorias e assistência estudantil. As monitorias, por exemplo, são uma excelente ferramenta feita por e para alunos. Para tornar claro, os monitores são estudantes do próprio câmpus que oferecem auxílio nos estudos de outros colegas. É uma abordagem positiva para todos os lados: os monitores recebem bolsa suas atividades, os alunos podem tirar dúvidas sobre diversas disciplinas em horários alternativos e os professores dividem os atendimentos com a monitoria.

Na assistência estudantil os números são impressionantes: são 1152 alunos beneficiados. Segundo dados da Coordenadoria de Assistência Estudantil (Coae), 543 usam os benefícios para almoço e 228 para jantar, num total de 771 no auxílio alimentação. No transporte urbano são 655 beneficiados mais 305 para transporte intermunicipal ou rural. No auxílio moradia são 77 assistenciados. Muitos dos estudantes utilizam dois ou mais destes auxílios que se mostram vitais durante o processo de estudos.

De Brasília para Pelotas: frio, problemas e a volta por cima

Dentre os diversos estudantes que usufruem dos benefícios oferecidos no câmpus Pelotas podemos encontrar as mais diferentes e curiosas histórias. Tantos rostos, origens e perspectivas acabam provando a pluralidade da instituição. Uma das histórias mais interessantes vem de longe: Brasília. Ao menos é de onde vem Adailson Pereira, protagonista de sua própria aventura para estudar no IFSul.

Adailson tem 25 anos e estuda Engenharia Elétrica. Hoje, sente-se feliz em Pelotas e tem se acostumado ao inverno rigoroso da cidade. A vida vai bem, o curso tem agradado e o futuro parece promissor. É um jovem de bem com a vida lutando por uma vida melhor, como todos os outros, colegas de sala e instituição. Mas voltemos um pouco no tempo: Pereira tem 25, mas passou boa parte de sua juventude ajudando sua família; Pelotas hoje lhe agrada, mas já lhe apresentou diversas dificuldades. A vida que vai bem, não estava tão boa. E a luz no fim do túnel, que hoje parece forte, quase se apagou.

Adailson é órfão de pai. Sua mãe teve sete filhos e a vida, segundo ele, nunca foi fácil. Em 2010 ele estava no ensino médio, mas teve que parar com os estudos. No ano seguinte, seu pai faleceu. Seus irmãos eram menores de idade e ele começou a trabalhar para ajudar no sustento da família. Com o tempo, seus irmãos também puderam trabalhar e ajudar. Adailson, então, viu uma oportunidade voltar a estudar.

Sem o ensino médio completo, decidiu fazer EJA. Em 2015, enquanto terminava os estudos, ainda se preparava para o Enem. O esforço valeu a pena, pois além de passar em todas as matérias, conseguiu uma boa média no vestibular. Escolhendo os cursos no Sisu, Adailson parou no câmpus Pelotas. “Sempre fui fascinado por tecnologia e desde muito novo desmontava eletrodomésticos para tentar arrumar depois”, comenta.

Um longo caminho

A vaga estava garantida. Tudo parecia perfeito. Mas não havia dinheiro para a viagem. Pereira estava desempregado e a família não podia arcar com as despesas da viagem, aluguel da moradia, alimentação e outros gastos. Adailson foi a todas as pessoas e lugares para pedir ajuda, até mesmo na TV local. O prazo era curto: em seis dias ele deveria estar em Pelotas para efetuar a inscrição no curso. Em três dias Adailson reuniu toda a documentação necessária e levantou o dinheiro necessário para a passagem, aluguel e alimentação.

Com tudo na mão, Pereira embarcou no ônibus. Foram quase quatro dias de estrada. Não havia dinheiro para alimentação, o que tornou a jornada ainda mais difícil. Adailson chegou a Pelotas no último dia de inscrição, que encerrava às 16h. Depois de alguma correria e apreensão, a inscrição estava feita.

Mas as boas notícias muitas vezes vêm acompanhadas de más notícias: as aulas começariam três meses após a chegada de Pereira ao município. “Fiquei desesperado porque já tinha vindo pra ficar e estava contando com os auxílios do IF. No mesmo dia da inscrição foram liberados os auxílios para almoço e janta, mas o aluguel eu não tinha”.

Nos dois primeiros meses, os irmãos ajudaram no sustento e no aluguel. Quando as coisas estavam começando a ficar mais complicadas, o auxílio moradia foi liberado. Tirando daqui, colocando ali, dando um jeito acolá, Adailson pagou os meses atrasados. O aluguel, contudo, era mais caro do que a bolsa recebida. O estudante então passou a fazer faxinas na república, buscando, em troca, abatimento no aluguel.

Depois da tempestade – e do frio...

“Logo depois veio o frio”, começa a dizer o brasiliense acostumado com temperaturas mais elevadas. “Brasília é quente e eu vim despreparado. Os três primeiros meses foram terríveis, passei muito frio e acabei entrando em uma depressão”. Com isso, Adailson parou de ir às aulas, começou a se sentir mal e desejava retornar para casa. Foi aí que a Coae entrou em cena, desempenhando um papel importante que muitas vezes não é visto.

Em um dos momentos mais difíceis de sua estadia, Adailson recebeu a visita de uma servidora da Coae que, de surpresa, levou agasalhos para que ele pudesse passar pelo inverno. O estudante ainda teve atendimento na enfermaria e foi encaminhado para a psicóloga da Coae que, segundo ele, fez um trabalho imprescindível para que pudesses voltar aos estudos.

Vale apontar, inclusive, que a Coae faz um trabalho de acompanhamento constante com os alunos beneficiados. Marlene Costa, coordenadora do setor, ressalta que a Coae não se limita a organizar a papelada e ceder os auxílios, indo além da burocracia de prazos e documentos. “Nós acompanhamos o desenvolvimento do aluno, como ele está nos estudos e fora da escola. Verificamos a frequência de todos eles e, caso haja algum problema, buscamos resolver e ajudar”, comenta.

Para Adailson, que aqui representa um grande grupo de alunos beneficiados pelos auxílios, o trabalho da coordenadoria foi essencial. No início de seu segundo semestre letivo, por exemplo, Pereira recebeu material de estudos, algo que recebera por doações ainda em Brasília no início do ano. “A equipe da Coae foi incrível, eu tenho certeza que esse carinho, atenção e cuidado eu não teria em nenhum outro lugar”, aponta o estudante.

Hoje, Adailson se diz muito bem e feliz, além de se sentir animado com o curso, sem nem pensar em desistir. Ele ainda salienta que, com a melhora, o desempenho acadêmico cresceu. Com isso, a professora Marise Keller percebeu sua dedicação e o convidou para participar de um projeto da equipe do Núcleo de Gestão Ambiental Integrada, o Nugai. “Isso me trouxe uma rotina positiva, tenho estado bastante ocupado com as cadeiras e o projeto”.

Depois de tantos problemas, idas e vindas e surpresas, Adailson está feliz e tem ao menos uma certeza: “O IFSul tem uma estrutura incrível e tem ótimas equipes. Não teria feito escolha melhor, porque sei que não teria isso em outra instituição”.