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Vidas marcadas pelo preconceito
GÊNERO E DIVERSIDADE
“A sociedade pode até te aceitar, mas quando você não tem o apoio da família, é muito triste.” Essa é a realidade de Brunn Noah, estudante do quarto semestre do curso técnico em química, e de muitas outras pessoas que são vistas como diferentes pela sociedade. Brunn é um rapaz trans, que está em transição de gênero há aproximadamente dois anos, mas que já sabia quem ele era desde 2014. Ele conta que sua família não teve uma boa aceitação, quando, a princípio, revelou não se sentir atraído por meninos. Mais tarde, quando descobriu que também não se identificava com o gênero no qual tinha nascido, decidiu não contar, já que sua sexualidade não havia sido bem aceita.
“Eu gostaria que meus pais me entendessem como sou, mas não posso obrigá-los, eu os compreendo, sei que eles vêm de outra época, onde as coisas eram diferentes”, revela o estudante, que diz que esse assunto em sua casa não é mais motivo de brigas, mas também não é tratado em nenhum momento, assim como em tantas outras famílias.
Brunn atualmente promove rodas de conversa na escola em que cursou o fundamental, onde também foi alvo de bullying, por já demonstrar ser uma criança diferente da maioria. “Minha mãe foi chamada na escola várias vezes, quase apanhei quando descobriram que eu gostava de uma menina, que foi quando tudo se complicou ainda mais. As novas gerações não têm que passar por essas coisas ruins”, avalia.
Por esse mesmo motivo, o grupo de pesquisa “Fora da Caixa” vem desenvolvendo estudos dentro do câmpus, a fim de conhecer as diversas realidades e criar um ambiente escolar confortável para todos. Uma dessas iniciativas foi a roda de conversa “Guia prático para sair do armário (se é que isso existe)”, realizada no Dia do Orgulho LGBT+, em parceria com o Núcleo de Gênero e Diversidade (Nuged), onde diversas histórias foram contadas.
Ao contrário de Brunn, Débora Souza, do terceiro semestre do curso técnico em comunicação visual, não representa o estereótipo que as pessoas têm de uma menina lésbica, o que acaba “facilitando” sua vida dentro da sociedade. “Antes de conseguir me assumir, eu dizia que gostava de homens também para ser mais aceita, mas não posso negar que tive muito privilégio em ter uma família que me aceita muito bem”, conta a estudante, que teve o apoio da família, mesmo descobrindo sua orientação sexual aos 14 anos.
A tranquilidade com que Débora vive dentro de casa e diante da sociedade infelizmente ainda não é a realidade da maioria das pessoas da comunidade LGBT+. Por isso, o Nuged está estudando diversas formas para auxiliar os jovens que sofrem preconceito diariamente devido à sua orientação sexual ou identidade de gênero.
“Este espaço que a gente construiu está sendo muito bom para mostrar aos alunos que nós estamos aqui, que temos um núcleo, um grupo de pesquisa, e que tem gente trabalhando para criar um ambiente escolar mais convidativo”, ressalta Kai, que faz parte do Nuged e do grupo de pesquisa “Fora da Caixa”.
Para Kai, estas ações são de extrema importância para reduzir a evasão escolar de alunos que se sofrem diariamente com o preconceito.
“Lutar contra a evasão é só mais uma luta que temos pela frente. Nós vamos trabalhar para conseguir captar as informações como: que tipo de aluno está saindo, se é branco, negro, LGBT+. Vamos criar ações para que todos possam ser acolhidos e não evadam por causa das estruturas que oprimem. Eventos como este representam várias lutas e muito orgulho. Os alunos veem tudo o que montamos aqui e abrem um sorriso porque percebem que não estão sozinhos”, comemora.